EUA encerram a maior paralisação da história após 43 dias, mas risco de novo shutdown já preocupa
A reabertura do governo dos EUA traz alívio temporário após um bloqueio recorde que afetou milhões de pessoas e a economia americana, mas o impasse político entre Trump e o Congresso pode provocar nova crise em janeiro
Após 43 dias, o governo dos Estados Unidos volta a funcionar nesta quinta-feira (13), encerrando a mais longa paralisação já registrada no país. O bloqueio, que afetou o tráfego aéreo, suspendeu benefícios alimentares e deixou mais de um milhão de servidores sem pagamento, expôs a profundidade das divisões políticas entre republicanos e democratas, ainda longe de serem resolvidas.
O acordo aprovado pelo Congresso garante recursos apenas até 30 de janeiro de 2026, deixando aberta a possibilidade de uma nova paralisação no início do próximo ano. O pacote também não inclui proteções contra possíveis retenções de verba por parte do presidente Donald Trump, nem resolve a disputa sobre os subsídios de saúde, motivo central do impasse.
A crise evidenciou fissuras dentro do próprio Partido Democrata: sua ala liberal defendeu a paralisação como forma de pressionar o governo, enquanto os moderados criticaram a estratégia, diante da maioria republicana no Congresso. O líder democrata no Senado, Chuck Schumer, chegou a enfrentar pedidos de renúncia, mesmo tendo rejeitado o acordo.
Pesquisas apontam que a população divide as culpas. Segundo levantamento da Reuters/Ipsos, 50% dos americanos responsabilizam os republicanos pelo shutdown, enquanto 47% culpam os democratas. Nenhum dos lados emergiu com ganhos políticos significativos.
Apesar da gravidade do bloqueio, o debate sobre a dívida pública de US$ 38 trilhões ficou praticamente ausente. Para os democratas, o alto custo da paralisação foi um preço a pagar pela tentativa de conter o aumento nos planos de saúde que pode afetar 24 milhões de pessoas. "A saúde do povo americano é uma causa que vale a luta", afirmou o deputado Hank Johnson (Geórgia).
Em troca, os democratas obtiveram apenas o compromisso de que o Senado republicano votará o tema, sem garantias de aprovação. Ainda assim, acreditam que a pressão política sobre os republicanos aumentará, já que os subsídios beneficiam majoritariamente estados governados por eles.
Do outro lado, republicanos moderados criticaram o uso recorrente de paralisações como ferramenta política. "É uma loucura que isso ainda aconteça. Deveríamos ser legalmente proibidos de paralisar o governo", disse o deputado Brian Fitzpatrick.
Com a reabertura, o sistema aéreo começa a se normalizar após milhares de cancelamentos causados pela ausência de controladores de voo. O Departamento de Agricultura (USDA) informou que os recursos para o programa de assistência alimentar (SNAP) devem chegar aos estados em até 24 horas, beneficiando cerca de 42 milhões de pessoas.
Os servidores federais, essenciais e não essenciais, terão direito ao pagamento retroativo previsto em lei, apesar das ameaças da Casa Branca de reter parte dos salários. O acordo também suspende até janeiro a iniciativa de Trump de cortar 300 mil cargos do funcionalismo público.
Durante o bloqueio, o governo ficou impedido de divulgar dados econômicos, prejudicando investidores e o Federal Reserve. O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) estimou um impacto de US$ 50 bilhões em gastos adiados e uma redução de 1,5 ponto percentual no PIB, com cerca de US$ 14 bilhões em perdas permanentes.
Com o país tentando retomar a normalidade, a tensão política segue intacta, e a possibilidade de um novo impasse paira sobre Washington.
Com informações de Reuters
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