Acordo parcial entre Israel e Hamas reacende esperança e movimenta os mercados globais
Após dois anos de guerra, Israel e Hamas firmam um pacto inicial mediado pelos EUA e mercado reage com cautela à possível redução do risco geopolítico
Israel e o Hamas chegaram ao que pode ser o primeiro passo concreto em direção ao fim da guerra em Gaza. O acordo, mediado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi firmado nesta quarta-feira no resort egípcio de Sharm el-Sheikh (local histórico de negociações de paz no Oriente Médio), e prevê a troca de reféns por prisioneiros palestinos, uma retirada parcial das tropas israelenses e a retomada da ajuda humanitária à população do enclave.
Segundo fontes diplomáticas, o cessar-fogo deve ser formalizado assim que o gabinete israelense aprovar o plano, o que deve ocorrer ainda nesta quinta-feira. A partir disso, Israel iniciará sua retirada para posições predefinidas em até 24 horas, e o Hamas deverá libertar os reféns em até 72 horas, possivelmente na próxima segunda-feira. A proposta também inclui a criação de uma força internacional de estabilização, composta por países europeus e árabes, encarregada de garantir a segurança e supervisionar o cumprimento do acordo.
Apesar da euforia inicial, a trégua ainda é frágil. Os bombardeios continuam, ainda que em ritmo mais esporádico, especialmente na Cidade de Gaza e em áreas próximas, onde a ofensiva israelense se concentrou nas últimas semanas. O pacto atual é apenas a primeira fase de um plano mais amplo, e muitos pontos permanecem indefinidos. Entre eles, o alcance total da retirada israelense, o futuro político de Gaza, o desarmamento do Hamas e, principalmente, as garantias de que o conflito não voltará a explodir.
Diferente dos cessar-fogos anteriores, o acordo não impõe prazos para que as negociações avancem, o que, para alguns analistas, pode aumentar suas chances de durar. Ainda assim, dentro da coalizão nacionalista religiosa do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, há resistência. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, já declarou que Israel deve "concluir a destruição do Hamas" mesmo após a devolução dos reféns.
Trump, por sua vez, tem se mostrado determinado em manter as partes firmes no pacto. O presidente norte-americano exigiu que Israel interrompesse os bombardeios quando o Hamas aceitou parcialmente seu plano de 20 pontos, e chegou a ameaçar o grupo com "um inferno como ninguém jamais viu" caso não aderisse. Seu envolvimento direto tem sido interpretado como um sinal de que Washington está disposto a sustentar a paz por meio de forte pressão diplomática.
Politicamente, o acordo representa um cálculo delicado para ambos os lados. Netanyahu tenta equilibrar o apoio dos Estados Unidos com as exigências de sua base interna, ao mesmo tempo em que busca mostrar aos israelenses exaustos pela guerra que a paz é possível. Já o Hamas, pressionado por países árabes e pela Turquia, parece ter aceitado um cessar-fogo parcial como a única alternativa viável para garantir sua sobrevivência política e aliviar a crise humanitária no território.
Nos mercados, a notícia do acordo produziu reações imediatas. O petróleo teve leve queda, refletindo uma redução no prêmio de risco associado ao conflito, enquanto os custos de transporte marítimo começaram a recuar com a expectativa de que o Canal de Suez e o Mar Vermelho voltem a operar com maior segurança. O ouro, no entanto, manteve-se em alta, sinal de que investidores ainda enxergam incertezas no desdobramento da trégua. Já na economia israelense, há uma onda de otimismo moderado. Analistas preveem que um cessar-fogo sustentado pode aliviar a pressão fiscal e restaurar parte da confiança dos investidores após dois anos de instabilidade.
A guerra pode ainda não ter terminado, mas o acordo firmado no Egito representa, pela primeira vez em muito tempo, uma abertura concreta para o fim de um conflito que devastou Gaza, dividiu Israel e pressionou as potências mundiais. O desafio agora será transformar essa trégua frágil em um caminho duradouro para a reconstrução, tanto da região, quanto da confiança internacional.
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