Fed mantém planos de corte de juros, mas paralisação do governo dos EUA obscurece cenário econômico
Sem dados oficiais de emprego e inflação por causa da paralisação do governo, o Fed enfrenta incertezas às vésperas de decidir um novo corte de juros
O Federal Reserve (Fed) deve manter o plano de reduzir os juros em 25 pontos-base no fim deste mês, mas a paralisação do governo dos Estados Unidos cria um vácuo de dados que preocupa formuladores de política monetária e economistas. Sem indicadores oficiais de emprego e inflação, o banco central entra em sua próxima reunião praticamente "voando às cegas".
Desde o início da paralisação, em 1º de outubro, o Departamento do Trabalho não divulga números oficiais de emprego. Os relatórios internos do Fed indicam enfraquecimento no consumo e desaceleração na criação de vagas, enquanto sondagens de confiança empresarial apontam queda na atividade. Mesmo assim, empresas alertam para novos aumentos de preços em um cenário de inflação ainda acima da meta de 2%.
As projeções de mercado indicam que o Fed reduzirá a taxa básica para a faixa entre 3,75% e 4,00% na reunião de 28 e 29 de outubro. "A grande incógnita agora é o que está acontecendo no mercado de trabalho", afirmou David Seif, economista-chefe da Nomura. Segundo ele, sem o relatório mensal de empregos, suspenso pela paralisação, as autoridades perdem visibilidade sobre o ritmo de contratações.
De junho a agosto, o crescimento médio mensal do emprego foi de apenas 29 mil vagas, bem abaixo dos níveis pré-pandemia. Paralelamente, dois bancos reportaram perdas com empréstimos, reacendendo a volatilidade nos mercados, enquanto tensões comerciais entre EUA e China voltaram a pressionar expectativas.
O governo norte-americano determinou o retorno parcial de servidores para permitir a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI) de setembro no dia 24. A projeção da Reuters é de alta anual de 3,1%, sinal que deve alimentar a cautela de dirigentes que defendem prudência nos cortes de juros. O Índice de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) (referência do Fed para a inflação) subiu de 2,3% em abril para 2,7% em agosto, e deve encerrar 2025 em 3,0%.
Para o presidente do Fed de Kansas City, Jeffrey Schmid, o nível atual de juros "está no lugar certo", mantendo pressão sobre os preços. Outros, como o novo governador Stephen Miran, acreditam que os juros já estão altos demais e que a inflação tende a cair nos próximos meses.
A falta de dados oficiais agrava o desafio. Embora o Fed acompanhe o mercado de trabalho por meio de pedidos de seguro-desemprego e relatórios privados, não há substitutos equivalentes para medir o avanço dos preços. "Os dados privados são úteis, mas não tão abrangentes", afirmou Thomas Barkin, presidente do Fed de Richmond.
A interrupção das estatísticas também afeta o acompanhamento do PIB e do consumo, limitando a leitura sobre o ritmo real da economia. Segundo o governador Christopher Waller, o momento é "particularmente complexo", com indicadores mistos: contratações fracas, mas sinais de aceleração no investimento, especialmente em setores ligados à inteligência artificial.
Enquanto as famílias mais ricas mantêm o consumo, outras recorrem a compras de oportunidade para enfrentar os preços elevados. "Há uma bifurcação clara na economia", observou Waller, que defende cortes "cautelosos" de um quarto de ponto neste mês, condicionados à trajetória da inflação e do emprego.
O presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, reforçou a incerteza: "Podemos seguir em frente por enquanto. Mas quanto mais a paralisação durar, menos confiança teremos de que estamos interpretando a economia corretamente."
Com informações de Reuters
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