Trump impõe novas tarifas sobre remédios, caminhões pesados e móveis de cozinha
Medidas incluem taxa de 100% para medicamentos de marca, 25% sobre caminhões e até 50% em armários
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma nova rodada de tarifas que atinge setores estratégicos como farmacêutico, automotivo e moveleiro. A partir de 1º de outubro, medicamentos de marca ou patenteados importados para o país terão uma tarifa de 100%, a menos que as empresas responsáveis estejam construindo fábricas em território americano.
Além disso, Washington vai aplicar uma taxa de 25% sobre todos os caminhões pesados importados e um imposto de 50% sobre armários de cozinha e banheiro. Segundo Trump, as medidas são uma resposta à "inundação" de produtos estrangeiros no mercado americano e têm o objetivo de proteger os fabricantes locais.
A decisão foi anunciada na quinta-feira (25), na plataforma Truth Social, mesmo após pressões de empresas dos EUA para que novas tarifas não fossem impostas.
Para Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics, o efeito das tarifas sobre os medicamentos pode ser menor do que o esperado, já que medicamentos genéricos estão isentos, assim como empresas que possuem produção no país. "Muitas das maiores farmacêuticas globais já têm fábricas nos EUA ou anunciaram planos de expandir sua produção local nos próximos anos", explicou.
A Federação Europeia das Indústrias e Associações Farmacêuticas pediu negociações urgentes para evitar que as tarifas prejudiquem pacientes nos EUA e na União Europeia. Em 2024, o Reino Unido exportou mais de US$ 6 bilhões (cerca de £ 4,5 bilhões) em produtos farmacêuticos para o mercado americano, segundo dados da ONU.
Um porta-voz do governo britânico afirmou que está em contato com Washington para mitigar os impactos. Entre as grandes empresas britânicas, a GlaxoSmithKline já opera fábricas nos EUA e prometeu investir US$ 30 bilhões nos próximos cinco anos em pesquisa e produção. A AstraZeneca, que também mantém unidades no país, anunciou em julho um plano de US$ 50 bilhões até 2030. William Bain, chefe de política comercial da Câmara de Comércio Britânica, disse acreditar que esses investimentos devem proteger as empresas de novas tarifas.
Recentemente, algumas farmacêuticas retiraram investimentos do Reino Unido, alegando um ambiente de negócios desfavorável. Para Jane Sydenham, diretora de investimentos da Rathbones, essa mudança está ligada principalmente ao peso da agenda de Trump e à incerteza que ela gera sobre onde será mais estratégico investir.
Trump também argumentou que as tarifas sobre caminhões pesados vão proteger a indústria local contra concorrência externa desleal e beneficiar empresas como Peterbilt e Mack Trucks. No setor de móveis, os impostos sobre armários e outros itens, incluindo uma tarifa de 30% sobre móveis estofados que entrará em vigor na próxima semana, visam conter altos níveis de importações que, segundo o governo, têm prejudicado os fabricantes americanos. A Ikea, maior varejista de móveis do mundo, afirmou que as novas medidas tornam os negócios "mais difíceis" e disse estar monitorando a situação de perto.
As tarifas têm sido um dos pilares do segundo mandato de Trump. Desde agosto, o governo implementou tarifas gerais sobre produtos de mais de 90 países como parte de sua estratégia para fortalecer a produção doméstica e gerar empregos. O presidente já havia aplicado medidas setoriais sobre aço, cobre, alumínio, automóveis e peças de veículos.
A Câmara de Comércio dos EUA vinha alertando contra novas tarifas, especialmente no setor de caminhões, lembrando que boa parte das peças utilizadas vem de países como México, Canadá, Alemanha, Finlândia e Japão. México e Canadá, sozinhos, fornecem mais da metade dos componentes importados para caminhões médios e pesados.
Segundo a especialista em comércio Deborah Elms, da Hinrich Foundation, essas medidas são positivas para os produtores locais, mas podem ser "terríveis" para os consumidores, já que os preços tendem a subir. Ela avalia que os impostos setoriais podem servir como alternativa caso as tarifas globais de Trump, que enfrentam contestação judicial, sejam limitadas.
Com informações de BBC
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