Energia renovável cresce, mas demanda segue maior que oferta
Combustíveis mais poluentes, como petróleo e carvão, seguem liderando energia mundial.
Embora lideranças globais queiram (e precisem) fazer uma transição no uso de combustíveis fósseis para energias renováveis – como solar e eólica, por exemplo –, os combustíveis mais poluentes, como petróleo e carvão, seguem como principais provedores da energia mundial.
A quantidade total de energia renovável disponível está crescendo, é um fato. Na matriz energética brasileira, por exemplo, quase metade da energia produzida vem de fontes renováveis, segundo dados do Ministério de Minas e Energia. Ainda assim, o aumento de disponibilidade segue menor do que a demanda global por energia.
Segundo Matthew Boyle, gerente de carvão global e análise de energia asiática da S&P Global Platts, consultoria especializada em energia, em entrevista ao site CNBC, o mercado global de energia está experimentando um rápido crescimento da demanda de energia à medida que os mercados se recuperam da pandemia.
"Apesar de todas as adições de capacidade na geração de renováveis, a quantidade de energia gerada dessa forma, atualmente, ainda não é suficiente para atender a demanda crescente ", enfatizou o especialista.
De acordo com Boyle, a oferta global de energias renováveis deve crescer 35 gigawatts entre 2021 e 2022, enquanto a demanda global deve aumentar 100 gigawatts. "Os países terão que aproveitar as fontes tradicionais de combustível para atender ao restante da demanda", afirmou o especialista.
As projeções da Agência Internacional de Energia (IEA) corroboram com a tese de Boyle. Segundo a organização, a demanda global por eletricidade deve se recuperar fortemente, saltando cerca de 5% em 2021 e mais 4% em 2022.
A agência declarou que espera que as energias renováveis sejam capazes de atender apenas cerca de metade do crescimento projetado da demanda global em 2022.
Escassez energética e alto custo
Segundo o relatório World Energy Outlook 2021, da IEA, divulgado pouco antes da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), o valor gasto em petróleo e gás em 2020 diminuiu à medida que os preços diminuíram e a indústria enfrentou pressão para se afastar dos combustíveis mais poluentes.
O gasto total com eles, em 2021, foi de pouco mais de US$ 350 bilhões de dólares, valor inferior ao que era gasto em 2019. Mas com a reabertura da economia e retomada de viagens, a demanda deve voltar em breve aos níveis de antes da pandemia.
Segundo a IEA, a rápida recuperação mundial – ainda que desigual – "está sobrecarregando os mercados de energia, gerando fortes aumentos nos preços do gás natural, carvão e eletricidade".
Combustíveis fósseis: reserva necessária?
Anthony Yuen, chefe de estratégia de energia do Citi Research, lembrou à CNBC que diversas fontes de energia renováveis dependem do clima e, sendo assim, condições adversas podem dificultar o cumprimento de planejamentos de fornecimento de energia a longo prazo.
O especialista acredita que os países precisam pensar em maneiras de garantir um fornecimento confiável de energia, e uma "solução comum" é utilizar os combustíveis tradicionais como reserva para quando as energias renováveis não forem atendidas.
Segundo ele, combustíveis fósseis "mais limpos", como o gás natural, podem ser usados como reserva.
Metas climáticas
Segundo a IEA, US$ 750 bilhões de dólares foram gastos globalmente em tecnologias de energia limpa em 2021, valor "muito abaixo do necessário para atingir as metas climáticas".
O relatório da entidade aponta que os gastos precisam dobrar ainda nesta década para manter as temperaturas "bem abaixo" de um aumento de 2 ºC, e mais do que triplicar para um aumento de 1,5 ºC — meta do Acordo de Paris de 2015, estabelecida como limite por cientistas para evitar o pior impacto do aquecimento global.
A entidade alertou que para alcançar emissões líquidas zero até 2050 – meta também definida no Acordo de Paris –, seriam necessários investimentos de cerca de US$ 4 trilhões de dólares anuais até 2030. O valor equivale a mais de três vezes o investimento atual.
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