Dolarização na Argentina: a estratégia gradual do governo Milei

Dolarização na Argentina: a estratégia gradual do governo Milei

O governo argentino, sob a liderança do presidente Javier Milei, tem adotado medidas para reduzir a circulação do peso, incentivando a população a utilizar o dólar em seu cotidiano. Essa estratégia busca diminuir a dependência da moeda local e promover uma transição econômica gradual. 

Pexels Image, Jonathan Borba

Durante sua campanha, Milei defendia com veemência a ideia de fechar o banco central do país e implantar rapidamente o dólar como a moeda oficial. No entanto, já no cargo, sua abordagem foi adaptada para que os próprios argentinos conduzissem essa transição.

A atual política, chamada de "dolarização endógena", tem como principal tática a diminuição da oferta de pesos. Com menos pesos disponíveis, as pessoas acabam recorrendo cada vez mais aos dólares para realizar suas transações diárias, o que aumenta a circulação da moeda estrangeira no mercado local. Desde que Milei assumiu a presidência, o peso argentino perdeu 62% de seu valor, reforçando a necessidade de uma nova alternativa econômica.

O Ministro da Economia, Luis Caputo, em um discurso proferido em 20 de setembro, explicou a estratégia do governo: "Nosso objetivo é remonetizar a economia, tanto em pesos quanto em dólares. Queremos que as pessoas utilizem seus dólares porque isso estimula a economia, gera receita e nos permite diminuir a carga tributária".

Esse movimento já pode ser visto nas ruas, onde supermercados, indústrias e até bares passaram a aceitar pagamentos em dólares. Paralelamente, instituições bancárias e fintechs estão criando soluções para facilitar as transações em moeda estrangeira. De acordo com dados oficiais, os argentinos possuíam cerca de US$ 277 bilhões em fundos não declarados no primeiro trimestre, uma quantia dez vezes maior do que a quantidade de pesos em circulação.

Com a crescente demanda por dólares, os bancos têm se adaptado à nova realidade. Nos últimos meses, aproximadamente 200.000 novas contas denominadas em dólares foram abertas, segundo fontes com conhecimento direto do sistema bancário. Além disso, o banco central argentino autorizou recentemente a emissão de cartões de débito vinculados a contas em dólares, visando redirecionar os recursos da anistia fiscal para o consumo, incentivando assim a economia do país.

No entanto, uma regulação rígida ainda impede que bancos ofereçam empréstimos em dólares para pessoas que não recebam salários em moeda estrangeira. Como resultado, os bancos são obrigados a manter reservas em dólares, o que faz com que dois terços dos depósitos em moeda americana sejam mantidos como garantia.

A dolarização na Argentina, liderada por Javier Milei, segue em um ritmo gradual, sendo moldada pelo próprio comportamento da população. Ao reduzir a oferta de pesos e estimular o uso de dólares, o governo busca fortalecer a economia e estabilizar a moeda. Entretanto, desafios como a rígida regulação bancária e a manutenção de reservas em dólares apontam para um caminho ainda longo e complexo, que depende tanto das ações governamentais quanto da adesão popular.

 

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Quinta, 21 Novembro 2024

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