Mercados reagem com cautela após shutdown do governo americano
Impasse no Congresso pressiona bolsas, reduz confiança no dólar e amplia incerteza sobre a política monetária do Fed
O governo dos Estados Unidos entrou em shutdown parcial na madrugada desta quarta-feira (1º), após o Congresso não conseguir aprovar uma medida provisória de financiamento antes da virada do ano fiscal. A paralisação atinge cerca de 750 mil funcionários federais que foram colocados em licença temporária, enquanto serviços considerados essenciais seguem operando de forma limitada.
O impasse político entre democratas e republicanos envolve cortes de gastos, subsídios à saúde e outras prioridades orçamentárias. Enquanto não houver acordo, diversas agências públicas ficam sem orçamento para funcionar plenamente, inclusive órgãos reguladores, como a Comissão de Valores Mobiliários (SEC), o que já ameaça travar processos de abertura de capital (IPOs) em andamento.
Nos mercados financeiros, a reação foi imediata. Os futuros de Wall Street recuaram entre 0,4% e 0,5% logo pela manhã, refletindo a aversão ao risco e a preocupação com a falta de dados oficiais de atividade e emprego, que deixam o Federal Reserve (Fed) com menos visibilidade para decidir os próximos passos da política monetária. O relatório de emprego do setor privado (ADP) já trouxe sinal negativo, mostrando corte de 32 mil vagas em setembro, quando analistas esperavam crescimento.
O cenário também favoreceu a busca por ativos de proteção. O ouro atingiu novas máximas históricas, enquanto o dólar cedeu frente a outras moedas, em meio à expectativa de que o Fed possa adotar uma postura mais cautelosa se a economia mostrar sinais mais fortes de desaceleração. Analistas lembram, porém, que shutdowns já ocorreram em outras ocasiões e, em geral, seus impactos mais duradouros dependem da extensão da paralisação.
No exterior, os efeitos foram mistos. Bolsas na Europa chegaram a registrar altas modestas, apoiadas em notícias positivas do setor de saúde, enquanto na Ásia houve quedas no Japão, mas ganhos em outros mercados como Coreia do Sul e Taiwan. No Oriente Médio, os índices dos países do Golfo também oscilaram, refletindo a influência do dólar e o clima de incerteza global.
No Brasil, o impacto direto é limitado, mas o mercado local acompanha o movimento externo com atenção. A Bolsa pode sentir o reflexo da aversão global ao risco, sobretudo pelo ajuste de posições de investidores estrangeiros em mercados emergentes. O câmbio também tende a oscilar conforme a direção do dólar no cenário internacional. Em paralelo, exportadores brasileiros já vinham enfrentando dificuldades devido a tensões comerciais com Washington, como a recente imposição de tarifas a produtos como o café.
A duração do shutdown será determinante para o impacto econômico. Se o impasse se prolongar, há risco de que os EUA enfrentem uma desaceleração mais acentuada, com repercussões sobre mercados globais. Já uma solução rápida pode reduzir os danos e devolver maior previsibilidade aos investidores.
Comentários: