Inversão na curva de juros americana pode indicar recessão?
Há 70 anos o movimento tem indicado futuras retrações na economia, mas especialistas discordam.
Embora nos últimos 70 anos uma inversão na curva de juros tenha precedido períodos de recessão nos Estados Unidos, segundo um relatório do banco UBS, o sentimento do mercado é o de que não há sinais claros de que haverá uma recessão nos EUA, apesar do aperto monetário que vem sendo realizado pelo Fed.
O spread entre os rendimentos dos títulos do Tesouro americano de dois e dez anos caiu de 1,27 para 0,18 ponto percentual, desde outubro de 2021. Nesse ritmo de achatamento da curva, é provável que uma inversão na curva de rendimentos esteja a caminho, o que faria com que o título de dois anos rendesse mais do que o de dez.
Apesar do movimento, no entanto, o sentimento no mercado é que não há sinais claros de que dessa vez haverá uma recessão nos Estados Unidos. Segundo analistas dos bancos UBS e Julius Baer consultados pelo jornal Valor Econômico, a curva de rendimentos pode estar sendo invertida artificialmente.
Para eles, dois motivos justificam o movimento: a expectativa do mercado de que o Federal Reserve (Fed) não mantenha os juros elevados por muito tempo e o fato de que os recursos colocados pelo banco no mercado como subsídio à economia estariam pressionando as taxas mais longas (rendimentos entre 10 e 30 anos). O Fed comprou, nos últimos dois anos, cerca de um terço dos papéis.
Entre as justificativas, estão a de que o mercado espera que o Fed eleve mais as taxas este ano e em 2023 e a de que a inversão da curva - que já está ocorrendo entre os títulos de sete a dez e de 20 a 30 anos - seja um erro técnico e não sinal de recessão.
O economista especialista em Estados Unidos do Itaú BBA, Bernardo Dutra, lembrou ao Valor que a inversão da curva é um processo natural que ocorre quando o Fed sobe juros, principalmente acima da taxa neutra - como está ocorrendo agora. O banco espera que a taxa dos fundos do Fed fique acima da neutra até o fim de 2022.
Segundo Dutra, só a inversão não indica necessariamente a ocorrência de uma recessão e é preciso olhar um conjunto mais amplo de indicadores de condições financeiras - como índices de bolsa, spreads de crédito, moedas e curva de juros.
Já os especialistas do Goldman Sachs estimam que até o fim do ano a inversão da curva de dois anos e dez anos chegue a 0,20 ponto, mas afirmaram que esses movimentos não são raros em períodos de inflação elevada.
Segundo o analista do banco Julius Baer, o próprio Fed não está seguindo a inclinação da curva de rendimento como um indicador de recessão. O banco central americano usa dados de fundamentos de milhares de empresas e calcula o prêmio justo de risco. No fim de fevereiro, a medida apontava risco de recessão de apenas 16%.
E você, acredita em uma recessão nos Estados Unidos ou concorda com os especialistas consultados na reportagem? Conte para a gente!
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