BCE mantém juros em 2% e adota tom otimista diante de resiliência da economia europeia
Autoridade monetária sinaliza estabilidade prolongada, com possível corte em 2026, enquanto inflação segue abaixo da meta e traders avaliam impacto sobre o euro e emergentes.
O Banco Central Europeu (BCE) manteve as taxas de juros inalteradas em 2% pela terceira reunião consecutiva nesta quinta-feira (30) e reforçou que a política monetária está em um "bom momento". A decisão ocorre em meio à desaceleração dos riscos econômicos e à resiliência da zona do euro, que tem surpreendido positivamente investidores e analistas.
Desde junho, o BCE acumula cortes de 2 pontos percentuais, mas optou por pausar os ajustes desde então. Em coletiva de imprensa realizada em Florença, a presidente Christine Lagarde sinalizou tranquilidade e afirmou não ter pressa para mudar o rumo da política monetária.
Segundo ela, o acordo comercial entre Europa e Estados Unidos, o cessar-fogo em Gaza e o entendimento firmado nesta quinta-feira entre Donald Trump e Xi Jinping (que prevê redução de tarifas) ajudaram a reduzir os riscos de desaceleração global.
"Do ponto de vista da política monetária, estamos numa boa posição. É uma boa posição permanente? Não. Mas faremos tudo o que for necessário para garantir que nos mantenhamos assim", declarou Lagarde. Apesar do crescimento modesto, a dirigente destacou que não há motivo para reclamações quanto à expansão de 0,2% registrada no PIB do terceiro trimestre, que superou as projeções do próprio BCE e do mercado.
No entanto, o otimismo é moderado. Lagarde reconheceu que, embora os riscos de crescimento tenham diminuído, a inflação segue abaixo da meta e deve continuar nesse patamar no próximo ano. Investidores mantêm expectativas de que as taxas de juros possam permanecer estáveis por um longo período, mas atribuem entre 40% e 50% de probabilidade a um último corte até meados de 2026.
"O BCE está longe de anunciar qualquer alteração nas taxas de juro", avaliou Jan von Gerich, economista do Nordea. "Não esperamos mudanças significativas por um bom tempo, embora os riscos ainda existam."
Uma possível mudança no sistema de comércio de emissões ETS2 da União Europeia também pode afetar o cenário. O programa, que inicialmente adicionaria 0,3 ponto percentual à inflação de 2027, pode ser suavizado, o que reduziria a pressão inflacionária e fortaleceria o argumento para novos cortes de juros.
Os dados mais recentes indicam melhora gradual da economia europeia. Espanha e França apresentaram desempenho acima das expectativas entre julho e setembro, e indicadores preliminares do quarto trimestre sugerem recuperação. Além disso, o Índice de Gerentes de Compras (PMI) aponta aceleração da atividade empresarial e melhora no sentimento econômico da Alemanha, maior economia do bloco.
Mesmo assim, persistem sinais de fraqueza no setor industrial e nas exportações para os Estados Unidos, que caíram de forma acentuada. Há também evidências de dumping chinês, produtos excedentes sendo vendidos na Europa a preços baixos, o que pressiona a indústria local.
O economista-chefe do BCE, Philip Lane, afirmou que um cenário de inflação abaixo da meta reforçaria a tese de uma taxa de juro "ligeiramente menor". Já o economista do Commerzbank, Jörg Krämer, considera mais provável que o BCE mantenha a taxa de depósito em 2,0% por um período prolongado. "O obstáculo para novos aumentos costuma ser muito alto para o BCE", disse Krämer. "A política deve permanecer estável enquanto os governos (especialmente o alemão) ampliarem os gastos e as famílias mantiverem reservas financeiras."
Para traders brasileiros, a decisão do BCE tende a reduzir a volatilidade no câmbio e nos rendimentos de títulos europeus, ao mesmo tempo em que reforça o dólar como ativo de proteção diante da estabilidade do euro. O movimento pode influenciar o comportamento do euro/dólar e impactar o fluxo de capitais nos mercados emergentes, incluindo o Brasil.
Com informações de Reuters
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