Argentina: Javier Milei, da ultradireita, vence as Primárias para presidente
Candidato tem similaridades e o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O ultradireitista Javier Milei, grande vencedor das PASO, as Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias, que são um termômetro para a disputa presidencial da Argentina, comemorou efusivamente o resultado surpeendente do domingo, 13. O economista, que surgiu com uma terceira força política, virou o jogo e saiu como favorito para a votação presidencial, que ocorrerá em 22 de outubro.
Uma hora após saírem os primeiros resultados das Primárias, por volta de 23h30 (hora local), o candidato do partido Libertad Avanza subiu em um palco e leu seu discurso, segundo relata o jornal La Nación.
"Essa alternativa competitiva não só acabará com o kirchnerismo, mas acabará com a casta parasitária, esporádica e inútil deste país", atacou logo de início. E completou: "Estamos diante do fim do modelo de castas, baseado naquela atrocidade que diz que onde há necessidade, há um direito, mas esquece-se que esse direito tem que ser pago", destacou.
"Hoje demos o primeiro passo para a reconstrução da Argentina, e tudo isso se manifesta em um conjunto de conquistas e métricas sobre a eleição de hoje", disse Milei. Em tom efusivo, acrescentou: "Não só fomos a força mais eleita em termos individuais, como hoje somos a força mais votada. Porque nós somos a verdadeira oposição!", afirmou, lembrando que "17 dos 24 distritos foram pintados de roxo".
Por fim, Milei convidou os "bons argentinos" a se juntarem à "revolução liberal": "Não me venham com isso não pode, o problema é que a solução está nas mãos do problema. Está nas mãos dos políticos. Se eles não quiserem mudar, vamos tirá-los de vez!", ameaçou.
Votação expressiva
Com 97,42% dos votos apurados, Javier Milei tem 30,04% dos votos. À frente da coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio (28,27%) e da coalizão da esquerda que governa o país Unión por la Pátria (27,27%).
As prévias definem as chapas que vão concorrer na eleição presidencial de outubro. Milei concorre sozinho dentro da sua coalizão, mas tanto o governismo como a oposição tem mais de um candidato. Além de liderar o voto por chapas, Milei foi o candidato mais votado, com 7 milhões de votos.
Em segundo, com 5 milhões de votos, está Sérgio Massa, o todo-poderoso ministro da Economia da Argentina, apoiado pelo presidente Alberto Fernández e pela vice, Cristina Kirchner. Apesar do segundo lugar de Massa, a coalizão governista ficou em terceiro lugar no voto por chapas, no pior resultado do peronismo em 12 anos de eleições primárias. Desde que o pleito foi implementado, em 2011, as alianças peronistas sempre acumularam as maiores porcentagens de votos.
Patricia Bullrich, candidata da centro-direita e esperança dos conservadores tradicionais argentinos para derrotar a esquerda, foi a terceira candidata mais votada, com 4 milhões de votos. Na disputa pela vaga interna do Juntos por el Cambio, a candidata linha-dura garante uma vaga no primeiro turno de outubro, registrando 17% contra 10,7% de Horacio Larreta, prefeito de Buenos Aires.
A votação expressiva de Milei foi antecipada pelas próprias campanhas enquanto a apuração avançava e pegou a Argentina de surpresa. Nas horas de tensão até que os primeiros resultados fossem anunciados, o governo chegou a prever que o candidato da extrema direita poderia ter até 30% dos votos, disse uma fonte da Casa Rosada à emissora local Todo Notícias.
Os resultados apontam que Javier Milei deixou para trás a direita mais moderada da Argentina representada pelo movimento Juntos por el Cambio, que era apontado pelas pesquisas como favorito. Na disputa interna da coalizão, Patricia Bullrich venceu o prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e será a candidata nas eleições de outubro.
Um desconhecido na política argentina até conquistar uma cadeira como deputado em 2021, o libertário Javier Milei ganhou impulso na corrida presidencial no início deste ano. Quando saiu de pontuações ínfimas nas pesquisas de intenção de votos para próximo do primeiro lugar.
O presidente da coalizão Liberdade Avança capturou uma atenção considerável do eleitorado argentino quando se colocou como "diferente de tudo que está aí". Com seu lema de ser "contra a casta política", Milei enfatiza que não faz parte nem da política peronista nem da oposição macrista. O discurso agradou quem está cansado da enorme crise econômica que passa o país e não foi resolvida no últimos governos de Alberto Fernández e seu antecessor Mauricio Macri.
À insatisfação popular se somaram as brigas internas dentro das coalizões de governo e oposição pelas candidaturas presidenciais. A chapa peronista União pela Pátria (antiga Frente de Todos) travou batalhas até os últimos dias para definir um candidato. Enquanto a oposição do Juntos pela Mudança decidiu sair com dois nomes de peso para a disputa, mas não sem antes protagonizar trocas de acusações entre eles e disputas até mesmo pela prefeitura de Buenos Aires.
Além da definir os rachas partidários quando eles existem, as primárias são um termômetro da política argentina. Em 2019, o peronista Alberto Fernández saiu das prévias com 15 pontos de vantagem sobre o então presidente Mauricio Macri. Naquele ano, Fernández confirmou o favoritismo e venceu a eleição junto com Cristina Kirchner, vice-presidente.
Por isso, os resultados das primárias dessa vez são uma má notícia para os peronistas. No governo, a esquerda teve a imagem abalada pela grave crise econômica que atinge o país onde a inflação anual é de 115%. Com as compras no mercado cada dia mais caros e os salários corroídos, cresce o inconformismo entre os argentinos.
Esse sentimento permitiu a ascensão do ultradireitista Javier Milei. O libertário era desconhecido na política argentina até 2021, quando foi eleito deputado. Com ideias radicais, como acabar com o Banco Central e dolarizar a economia, o economista ganhou atenção dos eleitores e despontava como uma terceira força da política argentina. Recentemente, as pesquisas apontaram que o ultradireitista estaria perdendo força. O que não se concretizou nas primárias.
Bolsonaro manifestou apoio a Milei
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se posicionou publicamente a favor da candidatura do economista Javier Milei, 51 anos, à Presidência da Argentina. O ex-chefe do Executivo enviou um vídeo para o argentino em que afirma existir semelhanças entre os dois. "Temos muito em comum e queremos ser grandes à altura do nosso território e da nossa população", disse.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, também demonstrou apoio ao candidato argentino, comemorando a vitória dele nas prévias. "Um excelente começo para o que pode ser a mudança real que a Argentina precisa", afirmou.
Semelhanças entre Bolsonaro e Milei foram traçadas desde o momento em que o argentino, até então parlamentar do Congresso, decidiu disputar as eleições presidenciais. Milei segue a mesma fórmula usada pelo ex-presidente brasileiro na campanha eleitoral: discursos contrários à esquerda - respectivamente, o petismo no Brasil e o kirchnerismo na Argentina -, posicionamento para se diferenciar de todos que já passaram pelo poder e defesa do livre mercado, da desregulamentação do comércio de armas e da ideia de "liberdade".
A proximidade entre os dois políticos foi mencionada por Bolsonaro em vídeo de apoio enviado para Milei e publicado pelo argentino em uma rede social. "Temos muita coisa em comum. Para começar que nós queremos o bem dos nossos países. Nós defendemos a família, a propriedade privada, o livre mercado, a liberdade de expressão e o legítimo direito a defesa", afirmou o ex-presidente.
Nas redes sociais, Milei aparece ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro com uma pose recorrentemente usada por aliados do ex-presidente: mãos em formato de armas. Na publicação, o parlamentar brasileiro comemora a vitória do candidato da extrema direita argentina. "Com vizinhos livres do socialismo, o Brasil tem um ambiente mais favorável para retomar o caminho da liberdade."
Tanto Bolsonaro quanto Milei se apresentaram como candidatos à Presidência em momentos de crise econômica em seus respectivos países. Os dois políticos saíram da posição de desconhecidos ou pouco conhecidos pelo eleitorado e chegaram aos primeiros lugares na pesquisas eleitorais.
A insatisfação popular dos eleitores com os governos vigentes e a situação da economia serviram de munição para os dois candidatos nas campanhas de oposição. Assim como Bolsonaro fez em 2018, Milei se coloca como o candidato que será responsável pelo rompimento do "sistema político tradicional".
Milei em 2023, assim como Bolsonaro em 2018, apresenta propostas radicais. Além da dolarização da economia do país, ele propõe o fim da educação gratuita e obrigatória, que seria substituída por um sistema de vouchers; uma gradual privatização do sistema de saúde; e o fim da educação sexual obrigatória - uma das pautas de costumes também defendida pelo ex-presidente brasileiro.
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