Queda do dólar frente ao real tornou o Brasil mais atraente para investidores.
Como a dinâmica de preços depende de muitos fatores, é difícil responder se o dólar continuará em queda, mas alguns analistas acreditam que ainda há espaço para uma valorização maior do real.
Em um relatório divulgado pelo Bradesco BBI, Dalton Gardiman, Ricardo Mauad, Bernardo Keiserman e Guilherme Zimmermann disseram que "a previsão de câmbio sempre foi um dos desafios mais difíceis para os economistas. De fato, um dos nossos modelos favoritos e mais simples usados para observar a moeda tem indicado que o real está 'barato'".
Mesmo com um cenário cheio de incertezas externas, como a guerra no Leste Europeu, o desenrolar da pandemia e questões internas fiscais e de eleições presidenciais, os analistas do banco acreditam que o real se valoriza frente ao dólar.
É natural que diante da situação incerta em que o mundo se encontra, os investidores sejam mais cautelosos. Mas isso não é o que está acontecendo nesse momento: a queda do dólar frente ao real tornou o Brasil mais atraente para os investidores.
Entenda a apreciação do real contra o dólar
Os analistas do BBI explicaram: "De fato, a recente redução de notícias negativas na frente fiscal, avaliações locais atraentes, surpresas mínimas em torno da eleição, avaliações pouco atraentes nos EUA e uma taxa de juros muito mais alta do que no restante do mundo provavelmente estão desempenhando papel [positivo]".
Em relação à questão fiscal, o Governo Federal cessou com a especulação de que haveria uma interferência nos preços da Petrobras ou grandes subsídios a fim de diminuir o valor dos combustíveis na bomba.
Quanto às eleições presidenciais, não há nada de novo para o mercado, já que são conhecidas as formas de governo de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva - e os ataques durante esse período também estão previstos. A terceira via também se esvaziou e o combate parece que vai mesmo ficar restrito entre as duas chapas.
Segundo os analistas, o fato da bolsa brasileira estar em níveis historicamente baratos nos últimos tempos também tem contribuído para essa apreciação.
Para eles, "apesar de os dados consolidados do Banco Central ainda não estarem disponíveis, é razoável concluir que o fluxo de capital em ações teve papel importante na apreciação do real contra o dólar, com dados disponibilizados pelo Institute of International Finance's (IIF) e pela própria B3".
EUA e as techs
Os analistas do BBI explicaram alguns fatores que levaram à situação atual: "avaliações das companhias de tecnologia dos EUA atingiram níveis extremos e sugeriram algum potencial de diversificação, especialmente quando o Federal Reserve começou a comunicar suas intenções de apertar as taxas em várias reuniões até meados de 2023".
Como as empresas de tecnologia são avaliadas na maior parte pelo seu potencial de crescimento, o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos deve prejudicar o crescimento das empresas desse ramo. Além disso, a bolsa americana Nasdaq, que abrange a maioria das empresas tech dos EUA, está com uma queda maior que 10% nos últimos três meses.
Já o Brasil foi beneficiado pelo movimento "sell tech, buy value", que consiste na venda de ações de tecnologia para investir na compra de ações de valor - que já são grandes, porém têm uma perspectiva de crescimento menor.
Outros pontos que contribuem para a queda do dólar
Ainda segundo os analistas do BBI, a taxa de juros brasileira está muito acima comparada a de outros países, abrindo espaço para o movimento carry-trade (aplicação financeira que consiste em tomar dinheiro a uma taxa de juros em um país e aplicá-lo em outra moeda).
"Taxas mais altas, principalmente nos instrumentos de renda fixa, atuam como fator de impulso, impedindo a saída de capital, e também como fator de atração, atraindo fluxos via carry trades", disseram os analistas.
Segundo eles, mesmo que a inflação em 2023 falhe novamente a meta de 3,25% e termine o ano em cerca de 5%, os rendimentos reais ainda permaneceriam bem acima de 6% nas letras do Tesouro Nacional.
A alta do preço das commodities, cuja demanda teve aumento devido à guerra entre a Rússia e a Ucrânia e que são produzidas em larga escala no Brasil, contribui para o resultado da balança comercial no positivo.
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