Ata do Copom: confira como foi a decisão de juros e os próximos passos do comitê
Documento foi divulgado na terça-feira, 7.
A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 7, trouxe que o cenário global incerto foi tema de debate entre os membros sobre a extensão do ciclo de ajustes na política monetária. "O Comitê percebe a necessidade de se manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas", informou o documento.
Conforme o Copom, a extensão do ciclo ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos. "O Comitê mantém seu firme compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e reforça que a extensão do ciclo refletirá o mandato legal do Banco Central", reforçou.
No parágrafo 23, a ata explica que o comitê analisou vários cenários prospectivos, caracterizados por diferentes trajetórias nos ambientes doméstico e internacional. Nesse momento do encontro de outubro, segundo o documento, debateu-se então a estratégia e a extensão de ciclo apropriados em cada um desses cenários. "Optou-se por manter a comunicação recente, que já embute a condicionalidade apropriada em um ambiente incerto, especificando o curso de ação caso se confirme o cenário esperado", pontuou.
Com relação aos próximos passos, os membros do comitê informaram que concordaram de forma unânime com a expectativa de cortes de 0,50 ponto porcentual nas próximas reuniões e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. "Tal ritmo conjuga, de um lado, o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência."
Inflação
A ata indicou que a projeção para o IPCA de 2024, horizonte prioritário do BC para o cumprimento da meta de inflação, está em 3,6% no cenário de referência. A estimativa, que já havia sido informada no comunicado da semana passada, é levemente superior aos 3,5% estimados no Copom anterior, em setembro, e segue acima do centro da meta de 3,0%.
Para 2025, que tem peso minoritário nas decisões de política monetária, a projeção é de 3,2% - um pouco acima do alvo central de 3,0% para o ano -, contra 3,1% em setembro. Para 2023, a expectativa do BC no cenário de referência é de 4,7%, bem mais baixa do que a projeção do Copom anterior (5,0%), ficando abaixo do teto da meta de 4,75%, e evitando o terceiro ano consecutivo de rompimento do objetivo principal do BC.
Todas as projeções já constavam no comunicado da semana passada, quando o Copom continuou o ciclo de corte da Selic (a taxa básica de juros) com queda de 0,50 ponto porcentual, de 12,75% para 12,25% ao ano.
Em relação aos preços administrados, a ata repetiu as projeções já informadas no comunicado de 9,3% para 2023, 5,0% para 2024 e 3,6% para 2025. Em agosto, as projeções eram de 10,5%, 4,5% e 3 6%, respectivamente.
O cenário de referência pressupõe a taxa de juros variando de acordo com a pesquisa Focus e o câmbio partindo de R$ 5,00 (arredondado no documento, conforme explicação do Copom) e evoluindo conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC). Além disso, a premissa é de que o barril de petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado pelos próximos seis meses e sobe a 2% ao ano na sequência. O BC ainda considera a hipótese de bandeira tarifária "verde" na conta de luz para o fim de 2023, de 2024 e de 2025.
"Serenidade e moderação"
O Copom ainda salientou seu compromisso com a reancoragem das expectativas e a dinâmica desinflacionária, de um lado, e o, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência, de outro.
Por isso, o colegiado pregou novamente serenidade e moderação na condução da política monetária.
"O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", reiterou o documento.
Cenário fiscal
A questão fiscal ganhou espaço em três trechos na ata. De acordo com o documento, as incertezas sobre a meta de resultado primário de 2024 levaram a um aumento do prêmio de risco.
A celeuma em torno da meta fiscal começou em 27 de outubro, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que dificilmente o Brasil atingirá o déficit zero nas contas públicas em 2024, como proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O chefe do Executivo avalia que um rombo de 0,50% ou 0,25% não é "nada" e reforçou que vai tomar a decisão "que seja melhor para o Brasil".
No parágrafo 13 da ata agora divulgada, o Comitê explicou que vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas notou que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco. "Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas", enfatizaram os integrantes do colegiado.
No parágrafo 16, o colegiado comentou que as expectativas de inflação seguem desancoradas e são um fator de preocupação. "O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira", salientou a ata.
Já no parágrafo 10, o Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia. Assinalou também que o esmorecimento pode ter impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.
Cenário global
O documento traz uma longa exposição sobre a piora do cenário global e os mecanismos de transmissão da alta de juros de países avançados para a economia doméstica. Para o Copom, "a conjuntura internacional se mostra adversa" e "os riscos em torno do cenário global cresceram".
O colegiado avalia que - diante de um contexto geopolítico incerto, conjugado com mercado de trabalho aquecido e hiato do produto apertado em avançados - a estratégia de aperto monetário prolongado tem sido fundamental para conter a inflação mundial, facilitando o controle inflacionário dos países emergentes. "Por outro lado, o aperto monetário global pode trazer pressões sobre o câmbio e impactar o preço dos ativos domésticos, contribuindo para um processo desinflacionário interno mais lento no curto prazo", admite o BC.
A ata passa então a debater a elevação das taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, que restringe as condições financeiras. Para o Copom, ainda é incerta a defasagem e a magnitude dessa alta de juros sobre a atividade econômica dos EUA, que segue resiliente.
"Face à elevação das taxas de juros de longo prazo observada, o Comitê discutiu, inicialmente, as possíveis razões desse fenômeno. Em sua discussão, o Comitê deu maior ênfase às perspectivas fiscais, em particular nos Estados Unidos, enfatizando seus impactos sobre as condições financeiras globais. Também se discutiu como a resiliência da economia norte-americana impactará a duração do aperto necessária para a convergência da inflação nos Estados Unidos. Na visão de alguns, o cenário atual é carregado de incerteza e a combinação do aperto substancial das condições financeiras com a resiliência da atividade pode tornar mais difícil o atingimento de um pouso suave", detalhou o documento.
Por fim, a ata lista os múltiplos canais de transmissão da taxa de juros dos EUA para a economia brasileira, como: diferencial de juros, prêmio a termo na curva de juros, demanda externa, câmbio, taxa neutra de juros, preço das commodities, entre outros.
"Enfatizou-se, em primeiro lugar, o impacto da necessidade de atração de recursos para financiar uma dívida mais alta nos países desenvolvidos. Em tal ambiente, com taxas de juros de dívidas soberanas mais elevadas em economias centrais, nota-se um impacto em outros mercados, tanto de dívida soberana de emergentes quanto de crédito privado, cujo impacto final será tão maior quanto maior for o tempo de juros mais elevados, podendo levar a realocações no processo de rolagem de dívidas", avaliou o Copom.
O BC destaca ainda o canal do câmbio, que tem efeito direto sobre a inflação. Mas, apesar da gravidade de eventos externos - como o conflito no Oriente Médio e o movimento "substancial" nos preços de ativos internacionais - o Copom considerou que o câmbio e o preço do petróleo tiveram variações "até o momento moderadas".
"Por fim, ao incorporar os múltiplos canais de transmissão em um ambiente de maior incerteza, o Comitê avalia que é apropriado adotar uma postura de maior cautela diante dos riscos envolvidos", concluiu o colegiado.
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