Suprema Corte deve manter tarifas de Trump, e tensão comercial reacende alerta global
Governo americano prepara novas bases legais para sustentar tarifas amplas sobre importações, enquanto investidores temem impacto nos lucros, na inflação e na estabilidade dos mercados
A Suprema Corte dos Estados Unidos dificilmente impedirá a manutenção das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, afirmaram autoridades americanas, reforçando a expectativa de que os impostos sobre importações continuarão a moldar a política econômica do país. A decisão tem potencial para influenciar diretamente mercados internacionais, pressionar custos corporativos e elevar o risco inflacionário, fatores acompanhados de perto por traders e investidores brasileiros.
A fabricante americana de equipamentos industriais OTC Industrial Technologies é um dos exemplos do impacto direto das tarifas. Após anos utilizando fornecedores de baixo custo na China e na Índia, a empresa agora enfrenta custos semelhantes ou até maiores em razão das novas tarifas. "Precisamos resistir e encontrar uma forma de superar isso para não falirmos todos no curto prazo", afirmou o CEO Bill Canady.
O governo Trump defende que as tarifas são essenciais para proteger setores estratégicos e reduzir o déficit comercial americano, classificado pelo presidente como uma "emergência nacional". Sob a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), Trump aplicou tarifas amplas, alegando que o déficit de US$1,2 trilhão em 2024 e o tráfico do opioide fentanil justificam medidas drásticas.
Embora tribunais inferiores tenham decidido que o republicano extrapolou sua autoridade, a Suprema Corte (com maioria conservadora) avalia um recurso que deve manter as tarifas. Mesmo se forem anuladas, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, assegurou que o governo usará outras bases legais, como a Seção 122 da Lei de Comércio de 1974, que permite tarifas de 15% por 150 dias, e a Seção 338 da Lei Tarifária de 1930, que autoriza até 50% sobre países que discriminam os EUA.
Bessent afirmou que "as tarifas vieram para ficar", e que países que firmaram acordos com os Estados Unidos devem cumprir os termos negociados. A administração Trump já utiliza também prerrogativas da Seção 232 da Lei de Expansão Comercial de 1962, sob o argumento de segurança nacional, e da Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, para práticas consideradas desleais.
Essas medidas servem ainda como instrumento de pressão em negociações comerciais. A Casa Branca já concluiu acordos com Vietnã, Malásia, Tailândia e Camboja, com tarifas entre 19% e 20%, e com a Coreia do Sul, que prometeu US$ 350 bilhões em investimentos em troca da redução para 15% das tarifas sobre automóveis e produtos industriais.
As tratativas com a China continuam tensas. Após semanas de impasse, Trump e o presidente Xi Jinping acordaram, na semana passada, reduzir pela metade a tarifa americana sobre produtos chineses ligados ao fentanil para 10% e adiar por um ano restrições de exportação de tecnologia. Em troca, Pequim suspendeu temporariamente as exigências para exportação de terras raras e retomou as compras de soja americana.
Nos mercados, investidores demonstram preocupação com a possibilidade de a Suprema Corte anular as tarifas da IEEPA, o que obrigaria o governo a reembolsar mais de US$ 100 bilhões e abriria mão de centenas de bilhões em receitas anuais. Esse fluxo ajudou a reduzir levemente o déficit orçamentário dos EUA para US$ 1,715 trilhão no ano fiscal de 2025.
Economistas alertam que o país pode se tornar "dependente da receita das tarifas", segundo Ernie Tedeschi, da Universidade de Yale. Caso haja reembolsos, empresas importadoras precisariam iniciar longos processos administrativos, e o governo ainda arcaria com juros de 6% ao ano.
Os impactos inflacionários também são relevantes. De acordo com a Oxford Economics, as tarifas adicionaram 0,4 ponto percentual à inflação anual de setembro, que chegou a 3,0%, mantendo o índice acima da meta do Federal Reserve. O aumento dos custos reduziu margens de lucro e já soma mais de US$ 35 bilhões em perdas corporativas neste ano.
Para o CEO da OTC, o cenário de longo prazo é inevitável: "O novo normal será 15%, independentemente da base legal. Eles vão chamar isso do jeito que precisarem para que não seja contestável."
Para traders brasileiros, a manutenção das tarifas representa um fator crucial para monitorar o comportamento do dólar, os fluxos de commodities e os movimentos da renda variável global. A continuidade da política tarifária de Trump tende a manter a volatilidade nos mercados internacionais e reforçar a busca por proteção cambial e ativos dolarizados.
Com informações de Reuters
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