Investidor que previu a crise de 2008 acusa empresas como Meta e Oracle de inflarem lucros no boom da IA e reacende o temor de uma bolha especulativa que pode afetar traders e investidores em todo o mundo
Michael Burry, o investidor que ficou conhecido por prever a crise financeira de 2008 e inspirou o filme A Grande Aposta, voltou a provocar inquietação em Wall Street. Em uma publicação feita nesta segunda-feira (10), no X (antigo Twitter), o fundador da Scion Asset Management acusou grandes empresas de tecnologia dos Estados Unidos de recorrerem a práticas contábeis agressivas para inflar seus lucros em meio ao boom da inteligência artificial.
Burry afirmou que os chamados "hiperescaladores", companhias que fornecem infraestrutura de nuvem e IA, como Meta e Oracle, estariam subestimando as despesas de depreciação ao estender artificialmente a vida útil de chips e servidores. Segundo ele, essa estratégia aumenta o lucro reportado e cria uma ilusão de crescimento sustentável.
"Subestimar a depreciação, estendendo artificialmente a vida útil dos ativos, aumenta os lucros, uma das fraudes mais comuns da era moderna", escreveu o gestor. Burry estima que, entre 2026 e 2028, essa prática possa levar a uma subavaliação de US$ 176 bilhões em depreciação, inflando os resultados de todo o setor.
A acusação ocorre em meio à euforia dos investidores com a inteligência artificial, que impulsionou as ações de empresas como Nvidia e Palantir a níveis recordes. Na semana passada, Burry revelou ter apostado contra ambas, adquirindo opções de venda com valor nocional de cerca de US$ 187 milhões e US$ 912 milhões, respectivamente. A movimentação gerou reações no mercado, incluindo críticas do CEO da Palantir, Alex Karp, que classificou a aposta como "maluca".
O alerta de Burry reacende o debate sobre a possibilidade de uma nova bolha especulativa. Assim como no final dos anos 1990, quando a internet era vista como o futuro absoluto da economia, o entusiasmo com a IA tem levado investidores a ignorar fundamentos e assumir riscos excessivos.
Os ciclos de euforia e pânico continuam moldando o mercado financeiro e definindo o destino de investidores ao redor do mundo. Movimentos de valorização acelerada, embalados por narrativas otimistas e promessas de ganhos fáceis, frequentemente criam bolhas especulativas que acabam por estourar, deixando um rastro de prejuízos e desconfiança.
Em momentos de euforia, a ganância tende a suplantar a análise racional. O preço dos ativos se distancia de seus fundamentos, impulsionado pelo comportamento de manada e pela sensação de que "dessa vez é diferente". Quando o ciclo muda e o otimismo dá lugar ao medo, a liquidez seca, e muitos investidores acabam presos em posições infladas, sem conseguir reagir a tempo.
Esses fenômenos são recorrentes na história dos mercados. Desde a famosa bolha das tulipas, no século XVII, até a explosão das .com no início dos anos 2000 e, agora, o avanço frenético da inteligência artificial, o padrão se repete: entusiasmo coletivo, expansão de crédito, influxo de novos investidores e, por fim, o colapso.
O que isso afeta no trade?
Para traders, o alerta de Burry é um lembrete prático de que o mercado é cíclico e emocional. Durante a fase de euforia, o aumento da volatilidade cria janelas de oportunidade, mas exige precisão, controle e uma gestão de risco firme. Já nas fases de reversão, o risco de perdas rápidas se multiplica, especialmente para quem ignora sinais de saturação.
Indicadores como o aumento repentino no volume de busca por determinados ativos, disparada de preços sem justificativa técnica ou entrada maciça de investidores iniciantes podem funcionar como sinais de alerta. Reconhecer esses movimentos permite ao trader se posicionar com estratégia, ajustar stops e preservar capital antes que o mercado corrija.