Montadoras vêm culpando a escassez por seus maus resultados financeiros em 2021.
A escassez de chips semicondutores iniciada em 2020 continua causando estragos no setor automotivo. Várias das maiores montadoras do mundo vêm culpando a crise por seus maus resultados financeiros este ano. Volkswagen (VW) e Stellantis afirmaram à imprensa, no final de outubro, que a falta de semicondutores continua sendo um grande problema para a indústria.
"Foi um trimestre desafiador", disse o CEO da VW, Herbert Diess, em entrevista ao site CNBC. Segundo ele, as marcas de volume sofreram com a escassez no fornecimento de semicondutores, referindo-se à Seat, Skoda e Volkswagen. Em comparação, a Porsche e a Audi (marcas premium da Volkswagen) têm sido "bastante resistentes" e entregaram resultados positivos.
A escassez de chips semicondutores não parece ter fim próximo e deve custar à indústria automotiva global US$ 210 bilhões de dólares em receita este ano, de acordo com a consultoria AlixPartners.
Diess confirmou que os negócios da VW na China foram afetados de forma desproporcional. "A China realmente sofreu", disse ele, acrescentando que a VW perdeu participação de mercado no país. Segundo o executivo, o grupo priorizou as marcas premium por lá, perdendo em volume de vendas.
Devido à escassez, a montadora alemã cortou sua previsão de entregas, diminuiu as expectativas de vendas e alertou sobre cortes de custos. A empresa reportou ao mercado lucro operacional inferior ao esperado para o trimestre.
Mas Diess afirmou que também há boas notícias. "O lado da demanda é muito bom", disse ele, que ressaltou que há muitos pedidos e que os veículos elétricos estão indo bem. "Tivemos que reduzir nossa perspectiva de vendas, mas a perspectiva de receita ainda é positiva e [tem] crescido significativamente no último ano. Isso significa que podemos manter nossa orientação de margem, o que é muito importante", enfatizou o CEO.
O porta-voz da VW está otimista quanto ao aumento no fornecimento de semicondutores no próximo trimestre, mas ainda espera ver algumas restrições em 2022, com o produto básico como gargalo na cadeia de suprimentos.
A Stellantis - formada pela fusão da Fiat Chrysler com a francesa PSA - também foi prejudicada pela falta de chips semicondutores. Como a VW, ela também teve expectativas reduzidas quando divulgou seus resultados do terceiro trimestre. A empresa relatou queda de 14% na receita depois de se ver obrigada a cortar 30% da produção trimestral planejada, o equivalente a 600.000 veículos.
Mas Richard Palmer, diretor financeiro da companhia, afirmou que o fornecimento de chips vem melhorando em comparação com setembro e espera que a tendência continue no último trimestre de 2021.
É hora de investir?
Analistas do JPMorgan e UBS acreditam que agora é o momento ideal para os investidores aumentarem sua exposição ao setor automotivo. Eles divulgaram a opinião em uma nota ao mercado e imprensa, em outubro.
Jose Asumendi, chefe de pesquisa de ações de automóveis europeus da JPMorgan, líder mundial em serviços financeiros, disse em entrevista recente ao site CNBC que ele e sua equipe têm aconselhado os investidores a aumentar sua exposição a automóveis. Segundo o analista, Daimler, Renault e Stellantis são as principais opções de ações do banco entre as montadoras europeias.
E os fabricantes de semicondutores?
Na outra ponta, os fabricantes de chips viram suas receitas dispararem com a escassez do produto. A francesa STMicro, fornecedora de empresas como a Tesla, apresentou fortes resultados no terceiro trimestre e espera que o próximo seja ainda melhor.
O presidente da STMicro, Lorenzo Grandi, afirmou ao CNBC que acredita que a situação em 2022 deve melhorar em comparação com 2021, mas avisou que o retorno do equilíbrio entre estoque e entrega aceitáveis só deve ocorrer após 2023.