Commoditie já recua 27,3% desde o início do ano.
Desaceleração chinesa
Durante os últimos 25 anos, o minério de ferro foi um dos grandes beneficiados pelo crescimento acelerado da China. A transformação da economia chinesa em uma potência industrial impulsionou a demanda global por aço, elevando o preço do minério de ferro a níveis históricos. Contudo, o cenário atual aponta para uma mudança drástica neste panorama. A economia chinesa, que antes movia montanhas de minério de ferro, agora desacelera, e com isso, o futuro dessa Commoditie está em risco.
A desaceleração da China não é apenas um fenômeno temporário. O país está passando por uma transformação estrutural em sua economia, movendo-se de um modelo dependente de grandes investimentos em infraestrutura e construção para um enfoque maior em tecnologia e serviços. Esse shift tem efeitos diretos sobre a demanda por aço, que já atingiu o pico nos últimos anos. Isso significa que o minério de ferro, um componente essencial na produção de aço, está prestes a enfrentar um mercado cada vez mais apertado e, possivelmente, em queda prolongada.
O impacto já é visível. As vendas de aço, tanto dentro quanto fora da China, estão em declínio. Como relatado, alguns negociantes em Xangai viram suas vendas anuais despencarem em mais de três quartos. Isso ilustra não apenas um mercado em contração, mas uma crise profunda que ameaça não só o mercado de aço, mas também o emprego e a estabilidade econômica em regiões fortemente dependentes dessa indústria.
Concorrência
Adicionalmente, a entrada de novos players no mercado global de minério de ferro agrava ainda mais a situação. Novas minas de baixo custo estão surgindo na Austrália e na África, aumentando a oferta global em um momento em que a demanda chinesa — historicamente o maior consumidor — está em declínio. Essa combinação é um prenúncio de um excesso de oferta que manterá os preços deprimidos por vários anos. O Banco Macquarie, por exemplo, já sinalizou que o superávit atual é "um dos piores" de todos os tempos.
O cenário é ainda mais complicado pelo fato de que a China, tradicionalmente um salvador em tempos de crise com pacotes de estímulo massivos, não está disposta a repetir esse papel desta vez. O presidente Xi Jinping tem focado seus esforços em afastar o país da dependência do crescimento liderado por propriedades e em promover indústrias de alta tecnologia e sustentabilidade ambiental. Essa mudança de foco reforça a perspectiva de um "inverno rigoroso" para o setor siderúrgico, conforme alertado por Hu Wangming, presidente da China Baowu Steel Group Corp., a maior siderúrgica do mundo.
Embora a Índia e outros países possam eventualmente preencher parte da lacuna deixada pela China, a realidade é que esses mercados não possuem a mesma voracidade por minério de ferro. Além disso, muitos desses países, como a própria Índia, possuem reservas substanciais de minério de ferro, o que limita a necessidade de importações.
Em resumo, o minério de ferro, que por décadas surfou na onda de crescimento chinês, agora enfrenta um futuro incerto. A desaceleração da China, aliada ao excesso de oferta global e à entrada de novos concorrentes, sugere que o período de valorização contínua dessa Commoditie chegou ao fim. A indústria precisa se preparar para um novo normal, onde o equilíbrio entre oferta e demanda será mais difícil de alcançar, e onde a resiliência será testada como nunca antes.