Nesta semana, o Macro Day, evento promovido pelo BTG Pactual, reuniu alguns dos maiores gestores do Brasil para um debate de alto nível. O painel, moderado por André Esteves, chairman do BTG Pactual, contou com a participação de Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX, André Jakurski, sócio-fundador da JGP, e Luis Stuhlberger, sócio-fundador do Verde.
Cenário econômico atual
No cenário atual, marcado por uma intensa volatilidade, a atuação do Federal Reserve (FED) tem sido um dos pontos centrais de discussão. O banco central americano, que já enfrenta as consequências de suas decisões passadas, encontra-se em uma posição delicada. Depois de ter elevado as taxas de juros tardiamente, o FED agora hesita em reduzi-las, temendo agir de maneira prematura. Essa postura cautelosa tem gerado incerteza nos mercados, que reagiram criando narrativas em torno de possíveis cortes de juros em 2024, apesar de o FED nunca ter sinalizado tal movimento. Essa especulação, combinada com dados econômicos desfavoráveis, provocou um pânico que reverberou em diversos setores financeiros, exacerbando a volatilidade global.
Ilusão monetária
No centro das preocupações econômicas está o conceito de "ilusão monetária", um fenômeno que se intensificou devido à impressionante impressão de dinheiro por parte dos bancos centrais nos últimos anos. Essa expansão monetária, inicialmente vista como um "presente" que impulsionaria a economia, agora é reconhecida como uma das principais causas de uma prosperidade ilusória. Nos Estados Unidos, o endividamento do governo federal atingiu níveis sem precedentes, enquanto a população, em grande parte, permanece alheia ao impacto futuro dessa dívida. Tanto nos EUA quanto no Brasil, há uma percepção generalizada de que as consequências desse endividamento recairão sobre as próximas gerações, mas essa realidade é amplamente ignorada. Mesmo sabendo que há um limite para a capacidade de um país de imprimir dinheiro sem desvalorizar sua moeda, a despreocupação com o aumento da dívida pública continua sendo uma questão crítica que pode ter implicações profundas no longo prazo.
Eleições e política internacional
As eleições americanas adicionam uma camada significativa de incerteza ao já complicado cenário econômico global. André Jakurski, renomado gestor brasileiro, expressou sua visão de forma clara ao comparar a candidata democrata Kamala Harris a um "bêbado conhecido" e o ex-presidente Donald Trump a um "alcoólatra anônimo". Jakurski prefere a previsibilidade de Harris, apesar de considerar suas políticas prejudiciais para o capitalismo e a economia ocidental. Ele teme que a imprevisibilidade de Trump possa levar a um cenário ainda mais caótico, especialmente no que diz respeito às relações internacionais e políticas econômicas.
No âmbito internacional, as recentes eleições no México geraram um desconforto significativo entre os investidores globais. A vitória da esquerda, que conquistou uma maioria no congresso, criou um cenário de incerteza que levou muitos investidores a reavaliar suas estratégias. Muitos que estavam posicionados com compra em peso mexicano e venda a descoberto de yen japonês optaram por desmontar suas posições. A incerteza política no México, agravada pelo novo panorama eleitoral, fez com que esses investidores buscassem proteger seus portfólios, evidenciando o impacto que mudanças políticas locais podem ter em estratégias financeiras globais. Essa dinâmica reflete a crescente complexidade e interconectividade dos mercados financeiros globais, onde decisões políticas em um país podem desencadear reações em cadeia em várias partes do mundo.
Perspectivas globais
O modelo econômico chinês, que anteriormente se baseava em uma alta produtividade populacional e em um robusto setor de construção civil, enfrenta agora desafios consideráveis. O crescimento chinês, sustentado por décadas de expansão rápida, começa a mostrar sinais de exaustão, especialmente à medida que o país enfrenta problemas demográficos e a necessidade de reformular seu modelo de crescimento. Muitos especialistas duvidam da capacidade da China de fazer essa transição de forma eficaz, mas Rogério Xavier, após várias visitas ao país, acredita que a China está se reposicionando para se tornar um produtor global de alta qualidade. Ele sugere que a China continuará a dominar a produção de uma vasta gama de produtos, oferecendo qualidade superior e preços competitivos, mesmo que isso implique enfrentar barreiras tarifárias de outros países. Além disso, a dependência de várias economias estratégicas em relação à China permite que o país exerça pressão econômica, retaliando tarifas e moldando o comércio global para favorecer seus interesses.
Esses fatores demonstram que a volatilidade nos mercados globais e as divergências de opinião entre economistas e investidores estão longe de se estabilizar. A incerteza, tanto econômica quanto política, continua a ser uma força dominante que molda as expectativas para o futuro das economias mundiais. As decisões tomadas hoje, tanto por bancos centrais quanto por governos, terão implicações duradouras que definirão o rumo da economia global nos próximos anos.