O cenário atual compromete o poder de compra dos brasileiros.
Em um cenário de juros altos e de perda de renda por grande parte da população brasileira, os números oficiais não mostraram um aumento expressivo de inadimplentes até o momento. O fato se deve, em parte, ao esforço dos bancos para tentar renegociar dívidas com seus clientes, oferecendo mais prazos e carência. Mas segundo os analistas, há sinais claros de uma piora no pagamento das linhas de crédito.
As últimas informações divulgadas pelo Banco Central (BC) acerca da inadimplência mostraram que as famílias devendo cresceram até 4,6% em janeiro e as empresas, 1,6%. Mesmo com o número de inadimplentes aumentando, o nível ainda está abaixo do que na pré-pandemia, quando o índice era de 5,0% para PF (Pessoa Física) e 2,1% para PJ (Pessoa Jurídica).
Com a Selic (taxa básica de juros) subindo cada vez mais e a guerra entre a Ucrânia e a Rússia influenciando o preço das commodities e pressionando a inflação, especialistas reconhecem que o cenário macroeconômico é desafiador.
O cenário acaba não só afetando as empresas que não conseguem gerar receita - e por isso muitas vezes deixam de pagar suas dívidas -, mas principalmente compromete o poder de compra da população.
Segundo Flávio Esteves Calife, economista-chefe da Boa Vista, em entrevista para o site Valor Econômico, o cenário mais pessimista só não se concretizou devido às negociações muito ativas dos bancos. Ele recordou o início da pandemia da covid-19, em 2020, quando todos esperavam que o crédito em atraso disparasse, o que não ocorreu: Houve um achatamento de curva: a inadimplência não disparou, mas ela se espalhou", afirmou.
Os bancos continuam a prolongar prazos e conceder carências aos seus clientes, que se mostram exaustos no pagamento de seus empréstimos - o que impede o avanço da inadimplência.
Dados do Boa Vista apontaram um aumento de 5,2% de inadimplentes em março em relação a fevereiro deste ano. A inadimplência está em 36,2%, maior nível, desde outubro de 2020, no rotativo do cartão de crédito.
O Serasa promoveu um evento em março chamado "Feirão Limpa Nome Emergencial", que conseguiu viabilizar mais de 3,32 milhões de acordos.
Segundo a empresa, houve uma alta de 0,54% de endividados entre janeiro e fevereiro, chegando a 65,17 milhões de pessoas - maior nível desde maio de 2020. As principais dívidas são: banco/cartão (28,6%), contas de consumo (23,2%) e varejo (12,5%).
"Com a inflação, as pessoas perderam o poder de compra, especialmente as de menor renda, e isso afeta diretamente a inadimplência. A primeira coisa que eles deixam de pagar é o cartão, porque precisam priorizar as contas básicas, comprar comida", disse Matheus Moura, gerente da Serasa, para o Valor Econômico.
E você, já precisou deixar de pagar alguma conta? Como lidou com isso? Conte para a gente!