Com a economia em expansão e a produtividade em alta, o Federal Reserve enfrenta o desafio de conter a inflação sem enfraquecer o mercado de trabalho
O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, faz nesta terça-feira (14) seus últimos comentários públicos antes da próxima reunião do banco central, em meio a uma economia que apresenta crescimento acima do esperado e ganhos recentes de produtividade, mas ainda enfrenta os impactos das políticas tarifárias e migratórias do governo Donald Trump.
Economistas afirmam que essas medidas podem gerar tanto pressão inflacionária quanto aumento do desemprego, um desafio direto ao duplo mandato do Fed de controlar preços e sustentar o emprego. A paralisação do governo americano complicou o cenário, ao atrasar a divulgação de dados importantes, como o relatório de empregos de setembro. O próximo índice de preços ao consumidor está previsto para 24 de outubro, antes da reunião do Fed nos dias 28 e 29.
O mercado aposta em mais um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica, levando-a para a faixa entre 3,75% e 4,00%, com nova redução possível em dezembro. "Há forças conflitantes atuando na economia", avaliou Gregory Daco, economista-chefe da EY-Parthenon, destacando que as tarifas e a queda na imigração limitam o crescimento, enquanto o avanço dos investimentos em inteligência artificial impulsiona a produtividade. "Esses fatores se equilibram, mas de maneira desigual", disse.
Entre os dirigentes do Fed, há divergências sobre qual risco pesa mais: inflação persistente ou enfraquecimento do mercado de trabalho. O governador Christopher Waller apontou a contradição entre estimativas de crescimento do PIB próximas de 4% e sinais de perda de vagas, como mostrou o relatório da ADP. "Você não pode ter crescimento negativo no emprego e um PIB de 4%. Ou o mercado de trabalho melhora, ou o crescimento desacelera", afirmou.
Waller defende cortes graduais de 0,25 ponto, para proteger o emprego sem relaxar demais o combate à inflação. A redução promovida em setembro seguiu essa lógica, um ajuste cauteloso que buscou equilibrar os dois objetivos. Mesmo com indicadores privados apontando contratações fracas, a taxa oficial de desemprego segue próxima do pleno emprego, em 4,3% em agosto, segundo o Fed de Chicago.
Economistas alertam, no entanto, que os efeitos das tarifas ainda estão sendo absorvidos pelas empresas, que vêm cortando custos ou reduzindo margens para compensar o impacto. Isso tem sustentado ganhos temporários de produtividade, mas tende a pressionar os preços no próximo ano.
De acordo com levantamento da Associação Nacional de Economia Empresarial (NABE), a inflação deve permanecer em torno de 2,5% até 2026. Já Karen Dynan, da Universidade Harvard, projeta aceleração para 3,3% à medida que os custos forem repassados ao consumidor. "Há uma boa chance de as expectativas de inflação saírem do controle. Se isso ocorrer, os cortes de juros serão vistos como um erro", afirmou.
A presidente do Fed da Filadélfia, Anna Paulson, reconhece o papel positivo do aumento da produtividade, mas alerta que o crescimento atual se apoia em poucos setores, como IA e consumo das classes mais altas. "O avanço continua, mas sobre uma base estreita", disse, considerando "apropriado" o plano de dois cortes adicionais de 0,25 ponto percentual até o fim do ano.
Com informações de Reuters