Por Maria Eduarda Cabral em Terça, 23 Setembro 2025
Categoria: Economia

Powell diz que mercado de trabalho fraco pesa mais que inflação e explica corte de juros do Fed

Presidente do Federal Reserve aponta desaceleração no emprego como maior desafio, mantém postura cautelosa e não descarta novos cortes na taxa básica de juros 

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou nesta terça-feira (23), que a fragilidade do mercado de trabalho está se tornando um fator mais preocupante do que a inflação persistente, justificando a decisão do banco central de reduzir a taxa básica de juros na semana passada.

O corte, o primeiro do ano pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), ocorre em meio a sinais de desaceleração tanto na oferta quanto na demanda por trabalhadores, enquanto o impacto temporário das tarifas comerciais mantém a pressão sobre os preços.

Em discurso para líderes empresariais em Providence, Rhode Island, Powell destacou que o papel do Fed é "equilibrar os dois lados do mandato duplo" do banco central: manter a inflação sob controle e sustentar o emprego. "Os riscos de curto prazo para a inflação são positivos, e para o emprego, negativos. É uma situação desafiadora", disse, ressaltando que não existe "um caminho livre de riscos".

A situação descrita por Powell se aproxima do conceito de estagflação, quando o crescimento econômico desacelera enquanto a inflação permanece elevada. Apesar de não ser tão grave quanto as crises vividas nos anos 1970 e 1980, o cenário atual representa um dilema político para o Fed.

Powell afirmou estar confortável com a postura atual da autoridade monetária, mas não descartou a possibilidade de novos cortes se o FOMC considerar necessário adotar uma política mais acomodatícia. "O aumento dos riscos para o emprego mudou o equilíbrio dos riscos em relação aos nossos objetivos. Esta política, ainda modestamente restritiva, nos deixa bem posicionados para reagir a novos desenvolvimentos econômicos", afirmou.

Mercado de trabalho e inflação

Sobre o emprego, Powell comentou que há uma "desaceleração acentuada" tanto na oferta quanto na demanda por trabalhadores, aumentando os riscos de perda de vagas. Durante o verão, a criação de empregos caiu para menos de 30 mil por mês, com revisões indicando quase um milhão de postos a menos nos 12 meses anteriores a março de 2025.

A inflação, por sua vez, desacelerou após atingir seu pico histórico em 2022, mas ainda segue acima da meta de 2% do Fed. Dados do Departamento de Comércio a serem divulgados na sexta-feira devem mostrar alta de 2,7% no índice de preços de consumo e 2,9% excluindo alimentos e energia.

Powell também citou o efeito das tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, que negociam com parceiros comerciais, como a China, prazos importantes para ajustes em novembro. Embora, por enquanto, os economistas do Fed considerem esse impacto principalmente temporário, ele ainda adiciona incerteza às projeções de inflação.

Debates internos e próximas movimentações

O Fed enfrenta divisões internas incomuns, com o FOMC encerrando a última reunião com votação apertada de 10 a 9 sobre a necessidade de um ou dois cortes adicionais ainda este ano. Entre os que defendem medidas mais agressivas está Stephen Miran, indicado por Trump, cujo mandato termina em janeiro.

A governadora Michelle Bowman alertou recentemente que o Fed corre risco de agir tarde demais para conter a deterioração do mercado de trabalho. Ela afirmou que a redução da taxa de juros na semana passada deve ser "o primeiro passo" de uma série de ajustes rumo a um nível de juros mais neutro.

Enquanto Powell não detalhou suas expectativas para futuros cortes, o tom do Fed indica cautela, equilibrando os sinais de desaceleração no emprego com a persistência da inflação.

Com informações de Reuters

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