O aguardado encontro no interior de Wyoming pode indicar o início da redução dos juros nos Estados Unidos em setembro.
Esta semana, a tranquila vila de Jackson Hole, situada no interior de Wyoming, se torna o centro das atenções de Wall Street e da economia global. O renomado simpósio, que reúne líderes entre os banqueiros centrais e economistas do mundo, gera expectativa quanto aos próximos passos da flexibilização monetária global, especialmente por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que pode abrir espaço para a diminuição dos juros nos Estados Unidos já em setembro.
Com a temática "Reavaliando a eficácia e a transmissão da política monetária", o evento de Jackson Hole, agora em sua 47ª edição, ocorre sob a organização do Fed de Kansas City, de quinta-feira, 22, a sábado, 24. Durante esses dias, Jackson Hole será palco para a reunião de figuras importantes como Jerome Powell, presidente do Fed, representantes do Banco Central Europeu (BCE), Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central do Brasil, além de economistas e acadêmicos de destaque, para discutir o futuro das taxas de juros na economia global.
Diferente de encontros anteriores, marcados pela expectativa de políticas monetárias mais rígidas, o cenário atual indica um movimento rumo à flexibilização monetária. Bancos centrais na América Latina, como os do Brasil e do Chile, lideram essa tendência, que já começa a influenciar a Europa, elevando as expectativas dos investidores quanto à possibilidade de queda nas taxas dos EUA.
Como tradição, o momento mais aguardado do simpósio é o discurso de abertura, normalmente proferido pelo presidente do Fed. Powell terá a oportunidade de falar para a elite dos banqueiros centrais na manhã de sexta-feira, dia 23, às 11h (horário de Brasília).
Os investidores estarão atentos a qualquer indício sobre a reunião de setembro e as decisões subsequentes. Acredita-se que Powell deixará em aberto a chance de um primeiro corte de juros, embora os próximos passos ainda dependam dos dados econômicos dos EUA.
Analistas sugerem que Powell deve demonstrar maior confiança nas projeções de inflação e destacar os riscos no mercado de trabalho, em contraste com a coletiva realizada após a reunião de julho, considerando os novos dados disponíveis.
A surpresa com o relatório de emprego de julho, que veio abaixo do esperado, reavivou os temores de uma possível recessão nos EUA, aumentando as especulações sobre uma redução mais acentuada nas taxas em setembro, de até 50 pontos-base (0,5 ponto percentual). Contudo, dados subsequentes, como os de inflação e do setor varejista e industrial, reforçaram a robustez da economia americana, acalmando um pouco essas expectativas.
As probabilidades de um corte inicial de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) na próxima reunião do Comitê Federal do Mercado Aberto (FOMC), marcada para o próximo mês, estavam em 61,5%, segundo um levantamento do CME Group, após a revisão anual dos dados do payroll e a ata da última reunião do Fed.
Embora o tema do simpósio sugira um debate sobre as ferramentas apropriadas para a condução da política monetária, espera-se que o evento traga poucas novidades em relação ao que mais interessa aos mercados: a trajetória das taxas de juros nos próximos meses.
Em conclusão, o discurso de Powell em Jackson Hole pode ser decisivo para moldar as expectativas do mercado quanto ao futuro dos juros nos EUA. A fala do presidente do Fed será uma oportunidade para comunicar as razões por trás de um possível início de ciclo de cortes, mesmo diante de uma inflação ainda elevada. O mercado estará atento, em busca de qualquer sinal que possa guiar suas próximas decisões.