A Boeing anunciou a demissão de 17.000 funcionários, além de informar o adiamento no lançamento de seu novo jato de passageiros 777X e bilhões em perdas relacionadas a greves e disputas trabalhistas em andamento.
Tradicionalmente, anúncios negativos são feitos às 16h30 de uma sexta-feira com o intuito de minimizar a cobertura midiática e a atenção pública. No entanto, a estratégia de "esconder" essas más notícias atrás de um comunicado de fim de semana dificilmente passa despercebida. Desta vez, a Boeing, uma das maiores fabricantes do setor aéreo, tentou esse movimento ao anunciar, logo após o fechamento dos mercados de Nova York, a demissão em massa, o atraso de um ano no 777X e enormes encargos financeiros.
A lista de problemas enfrentados pela Boeing tem se alongado cada vez mais. Entre falhas técnicas, adiamentos constantes em sua produção e uma troca incessante de liderança com três CEOs em menos de cinco anos a empresa tem enfrentado dificuldades constantes. Em julho, após se declarar culpada em acusações de fraude relacionadas aos acidentes fatais do 737 Max, a revista The Economist descreveu a Boeing como "o equivalente corporativo de um criminoso".
Os recentes anúncios agravam ainda mais a situação financeira da companhia. A Boeing declarou que sua divisão de Companhias Aéreas Comerciais enfrentará encargos antes dos impostos de US$ 3 bilhões apenas no terceiro trimestre. Além disso, sua unidade de Defesa deve registrar mais US$ 2 bilhões em perdas. A empresa também destacou que um dos principais responsáveis por essa deterioração financeira são os 33.000 trabalhadores sindicalizados que estão em greve há cerca de um mês, exigindo melhores salários. Em uma carta enviada aos funcionários, a CEO Kelly Ortberg enfatizou a gravidade da situação ao comunicar as demissões, que representam 10% da força de trabalho da empresa. "Estamos em uma posição crítica, e os desafios que enfrentamos juntos não podem ser subestimados", afirmou Ortberg.
A crise pode se aprofundar. A S&P Global, que estima que a Boeing está perdendo cerca de US$ 1 bilhão por mês devido à greve, colocou a empresa em "CreditWatch Negative" na última semana. Esse status é um sinal claro de que a agência de classificação de crédito está considerando rebaixar a nota da dívida da Boeing para grau especulativo, ou "junk". Se mais uma agência de classificação seguir esse movimento, boa parte dos US$ 58 bilhões em dívida da Boeing, calculados no segundo trimestre, seriam removidos dos índices de grau de investimento, forçando a empresa a pagar rendimentos mais altos aos investidores.
Em uma nota aos clientes, o JPMorgan destacou que a Boeing pode se tornar "o maior anjo caído já registrado", referindo-se à possibilidade de a empresa ser rebaixada para grau especulativo. O banco lembrou que, se o rebaixamento ocorrer, os US$ 52 bilhões de dívida elegível da Boeing superariam o rebaixamento histórico de US$ 51,7 bilhões da Ford em 2020.
As negociações entre a Boeing e o sindicato, um dos pontos centrais que têm alimentado a atual crise, continuam tensas. Na terça-feira, a Boeing se afastou da terceira rodada de negociações, com ambas as partes se acusando mutuamente de violar as leis trabalhistas. A situação escalou ainda mais quando a empresa formalizou uma queixa ao Conselho Nacional de Relações Trabalhistas, acusando os sindicalistas de negociações de má fé.
A Boeing está em uma encruzilhada financeira e operacional que pode ter consequências duradouras. Com uma série de demissões, adiamentos e disputas trabalhistas em andamento, a gigante da aviação enfrenta desafios monumentais em sua busca por estabilizar suas operações e recuperar a confiança do mercado.
O rebaixamento de sua dívida para o status "junk" pode ser o golpe final em sua trajetória recente, marcando o que pode ser um dos maiores desafios da história da empresa. Resta saber se a Boeing conseguirá decolar novamente ou se este será um capítulo sombrio que definirá seu futuro no setor aéreo global.