Por Gustavo Nunes* em Terça, 19 Dezembro 2023
Categoria: Colunistas

O Fed e o circo do mercado de ações: uma comédia de cortes de juros e máximas históricas

Banco central dos EUA mudou de protagonista a antagonista?

Em meio a uma dança econômica peculiar, o Federal Reserve dos EUA (FED) parece ter mudado de protagonista a antagonista, deixando muitos se perguntando se o medo agora reside nas salas do Banco Central. O pronunciamento do presidente do FED sobre a possibilidade de iniciar cortes nas taxas de juros trouxe à tona uma série de questões, especialmente quando os índices de ações flertam com suas máximas históricas, apesar das empresas não relatarem lucros condizentes com os valores de suas ações.

O FED, que demorou a subir as taxas de juros após a pandemia, manteve-as próximas de zero por um período considerável. Mesmo diante dos sinais crescentes de inflação, a ação para combatê-la foi adiada até que se tornasse evidente a necessidade de uma intervenção mais assertiva. Agora, com as taxas atingindo patamares não vistos desde 2007, o FED parece ansioso para iniciar o corte de taxas, talvez temendo uma possível recessão. Uma velocidade de resposta que não foi observada quando o objetivo era conter a inflação. Será que nosso querido Powell sabe de algo que não sabemos?

O movimento do FED desencadeou uma ascensão vertiginosa nos índices de ações, alguns alcançando máximas históricas. O curioso é que essa escalada ocorre mesmo quando os múltiplos dessas empresas não justificam plenamente tal movimento. A pergunta que fica pairando no ar é: até quando o mercado manterá essa força, aparentemente desconectado dos fundamentos intrínsecos das empresas?

Confira a análise em vídeo:


Parece que os decisores políticos do Federal Reserve transformaram a narrativa, passando de zeros a heróis. No início do ano passado, quando as críticas eram abundantes, o FED foi acusado de estar atrasado na curva da inflação. A solução sugerida pelos críticos era uma intervenção radical, aumentando as taxas de juro rapidamente para combater a inflação. Surpreendentemente, o FED seguiu esse conselho, elevando sua taxa básica de quase zero para 5,50%, conseguindo desacelerar a inflação a caminho da meta de 2%. No entanto, ao invés de contrair a economia, esta ganhou força, expandindo-se a uma taxa anualizada de 5,2% no terceiro trimestre.

O grande pivô do presidente do FED, Jerome Powell, em direção aos cortes nas taxas de juros, é visto com alegria na Casa Branca. No entanto, esse movimento não está isento de desafios, podendo alimentar suspeitas de que Powell está tentando impulsionar a economia em benefício político. Um jogo arriscado em um cenário político delicado.

A grande desconexão persiste, destacada pelo fato de que, enquanto o FED se prepara para cortar as taxas de juros e os índices de ações atingem máximas históricas, as expectativas de Wall Street em relação aos lucros das empresas permanecem praticamente inalteradas. Os analistas projetam que as empresas do índice S&P 500 ganharão cerca de US$ 247 por ação em 2024, praticamente o mesmo nível de maio passado.

Diante desse cenário, como bem pontua Matt Maley, estrategista-chefe de mercado da Miller Tabak + Co., "algo tem que ceder". A relação entre os índices de ações e os fundamentos das empresas parece estar em uma encruzilhada, deixando investidores, especialmente os veteranos no mercado de bolsa de valores, em um dilema cômico e reflexivo. O espetáculo continua, e a plateia aguarda ansiosamente o próximo ato dessa trama econômica intrigante.

*Gustavo Nunes é Analista CNPI-T 3656. 

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